Compartilhamos artigo do Pastor Lamartine Posella para nossa reflexão, em face do que ocorre em nosso país no atual cenário político, econômico, ético e social.
Como os cristãos devem abordar a
Política nos nossos dias?
Frequentemente
tenho sido arguido a respeito do papel dos cristãos na política; especialmente
nesses dias em que a nossa participação é tão relevante.
Para levá-los à reflexão, gostaria de propor algumas abordagens históricas
defendidas por cristãos, e por meio delas, suscitar o debate, como também
propor algumas ideias fundamentais para a discussão nesse importante tempo em
que vivemos no Brasil.
1- A abordagem de Cristo acima da
cultura:
Neste
jeito de pensar, a Igreja precisa ter o poder acima do governo. Essa visão teve
o seu apogeu no tempo do “Santo Império Romano”, quando a realeza se dobrava
diante do Papa, e não vice-versa. Ainda que alguns cristãos defendam essa
idéia, ela contém em si mesma o vírus do fracasso, pois, em vez de termos o
senhorio de Cristo sobre a nação, podemos promover a corrupção, a
incompetência, a tirania eclesiástica, além de muitos outros sintomas de uma
sociedade que se enferma quando é dominada por homens que se valem do nome de
Cristo para fins escusos em vez de se tornarem instrumentos da sua vontade.
2- A abordagem dos anabatistas:
Os
anabatistas foram povos puritanos que se opuseram a praticamente tudo o que a
cultura oferecia. A abordagem deles poderia ser resumida como “Cristo contra a
cultura”. Acreditando que os cristãos deveriam ser diferenciados em tudo,
propuseram uma contracultura, na qual deveriam ser conhecidos por suas
diferenças, levando-os, portanto, a uma alienação completa da sociedade. Essa
abordagem, ainda que de maneira mais tênue, tem influenciado grande parte do
mundo cristão no Brasil, quando muitos, mesmo que sinceramente, defendem que
devemos nos excluir de todo e qualquer tipo de envolvimento político. Com isso,
relegam a condução dos nossos destinos aos corruptos que se embriagam com a
sedução do poder, quando deveríamos lutar por um país mais justo, socialmente
mais digno e sobretudo com menos corrupção.
3- A abordagem de Calvino:
A
abordagem de Calvino foi adotada pelos puritanos na Inglaterra e nos Estados
Unidos, propondo que todos os cristãos são chamados por Cristo para transformar
a cultura. Calvino afirmava que, embora a humanidade esteja corrompida em
função de sua natureza decaída, cristãos deveriam trabalhar para transformar os
pilares da sociedade, trazendo-a o mais próximo possível dos padrões de Cristo.
Esta é, na minha opinião, a postura a ser tomada pelos cristãos brasileiros. A
história nos conta que Calvino influenciou toda uma geração, alcançando avanços
extraordinários na sociedade do tempo dele.
4- A abordagem dos luteranos,
também chamada de “Cristo em paradoxo com a cultura”:
Lutero
dizia que há dois tipos de reino na Terra: Cristo e o reino do mundo. Cada um
tem a sua esfera de autoridade, e nós somos sujeitos a ambos. Para ele, algumas
vezes o governo pediria aos cristãos que agissem contra a sua lei moral,
trazendo os dois reinos para um conflito. O problema desse modelo é que muitos
soldados alemães luteranos participaram da maior barbárie da história, o
holocausto, justificando que estavam simplesmente obedecendo ao reino secular.
Acho que esse é o mesmo pecado cometido por muitos cristãos nos nossos dias,
quando defendem todos os desmandos do governo, simplesmente porque acreditam
que se alguém foi investido de autoridade por Deus, então devemos obediência
cega a quem quer que seja.
5- A abordagem que identifica
Cristo com a cultura:
Essa
abordagem pode assumir várias formas, que vão da Teologia da Libertação, que
mistura teologia com política, até a visão dos secularistas, que veem a
democracia liberal e a justiça como o cumprimento daquilo que Jesus ensinou. O
problema com essa abordagem é que com o tempo a fé vai dando lugar às reformas
sociais, que se tornam mais importantes do que as mudanças interiores
apregoadas por Cristo. Justiça social sem a justiça interior é inexequível.
A verdade
é que a história prova que se não houver a transformação interior do homem, a
corrupção e o despotismo acabam prevalecendo sobre os sonhos e as ideologias.
Tome-se como exemplo a história recente do Brasil. No jogo das cadeiras dos
partidos, saiu o PSDB e entrou o PT no governo da nossa nação.
Ainda que haja diferenças de “approach” entre os dois partidos, o velho
pragmatismo do poder acaba vencendo.
Agora, falando de hoje, como pode um partido que se diz democrático apoiar
todos os governos totalitários do nosso tempo? Me refiro a Cuba, Venezuela,
Bolívia, dentre outros apoiados pelo PT.
Não seria natural que um partido que se diz democrático tivesse transparência
na averiguação das denúncias da Petrobras?
Não pensem que, com isso, eu tenha a convicção de que o impeachment seja a
melhor solução para o Brasil. Afinal, não se esqueçam… Sairá o PT e a nossa
nação ficará entregue ao PMDB e ao seu pragmatismo.
Entretanto, nosso povo precisa acordar. Precisamos entender que esse é o tempo
do povo brasileiro, e especialmente me dirijo aos cristãos. Que deixem para
trás o comportamento subserviente, protestem contra a corrupção de quem quer
que seja, lutem para que todo aquele que alcance postos de liderança seja
modelo de integridade e justiça e, sobretudo, não esteja acima da Lei.
O tema está lançado. Creio de todo o meu coração que no debate das ideias a
maturidade virá para o nosso povo.
Enquanto isso, vamos orar muito, mas também agir.
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