THOMAS JEFFERSON BOWEN:
150 anos da chegada do primeiro missionário batista ao Brasil
Por: Clemir Fernandes
Embora injustamente pouco conhecido Thomas Jefferson Bowen é uma das mais importantes referências da história dos batistas, em particular, e dos evangélicos, em geral, no Brasil, além de também o ser na África. Ele foi o primeiro missionário batista, e um dos primeiros evangélicos, a ser enviado à terra brasileira, aqui chegando em 21 de maio de 1860, ou seja, há exatos 150 anos. Também foi o primeiro missionário batista enviado à África Central, tendo atuado ali antes de vir para o Brasil, precisamente na atual Nigéria, onde aprendera a língua yorubá, o principal dialeto dos escravos brasileiros.
Em decorrência de problemas de saúde, mas também desejoso de atuar no Brasil, especialmente após a leitura de “Brazil and brazilians”, a Junta de Richmond (atual International Mission Board – IMB) o transferiu para cá, juntamente com sua esposa, Lurenna Henrietta Davis Bowen e a filha de 2 anos, que tinha o mesmo nome da mãe: Lurenna Henrietta Bowen. O casal teve três filhas, mas esta foi a que viveu mais, falecendo nos EUA, no ano da organização da Convenção Batista Brasileira, em 1907, aos 75 anos de idade.
Há muito que se estudar e reconhecer do trabalho missionário de Tomas Bowen, como o fato de dedicar-se a evangelizar os africanos na Nigéria e os negros no Brasil, reconhecendo, portanto, sua dignidade humana. Consciente ou involuntariamente sua postura era um desafio para a igreja de seu tempo no tocante à escravidão reinante naquela época. E isso fica ainda mais evidente pelo fato de ele ser da Geórgia, estado americano de forte tradição escravocrata e segregacionista. Sobre isso e sobre o trabalho de Bowen na África e no Brasil, há uma importante dissertação de mestrado, em inglês, defendida pelo brasileiro, Alverson Souza, na Universidade de Natal, África do Sul, que precisava ser traduzida e publicada no Brasil (http://www.nosrevla.com/home/batistas).
Dentre suas atividades missionárias, Bowen objetivava criar no Brasil uma escola para formação de lideres negros a fim de que estes alcançassem os outros com a mensagem do evangelho. Mas os desafios enfrentados por ele, como a forte oposição do clero romano dominante no Brasil, as criticas e acusações infundadas da imprensa que também era controlada pelo clero romano, as limitações legais para o estabelecimento de um salão de cultos imposta pela monarquia Brasileira devido aos laços com o clero romano, as vezes o próprio atraso na chegada de recursos financeiros e diretrizes claras da IMB devido aos desvios e burocracia da monarquia brasileira, mas principalmente os graves problemas de saúde dele, como a malária, que o perseguia desde a Nigéria, determinaram seu retorno aos Estados Unidos.
Do ponto de vista dos resultados quantitativos, como geralmente acontece em relação ao trabalho de um missionário, Bowen não conseguiu atender certas expectativas, porém, a qualidade e importância de sua atuação no Brasil são significativas o suficiente para serem valorizadas e celebradas, por nós hoje e por futuras gerações. A primeira semente das convenções: Batista Brasileira, Batista Nacional, Batista Pioneira e Batista Independente foi plantada por este servo do Senhor há 150 anos. Ele foi o pioneiro e desbravou um caminho, para que outros depois dessem prosseguimento, como o pastor Richard Ratcliff, fundador da primeira Igreja Batista no Brasil, em Santa Bárbara, SP, em 1871. Interessante registrar que Ratcliff converteu-se numa pregação de Bowen, nos EUA e por isto veio a ser seu sucessor batista no Brasil.
Procurando reforçar sua tese que identifica William Buck Bagby como primeiro missionário no Brasil, o historiador José dos Reis Pereira (História dos Batistas no Brasil) minimiza o trabalho de Bowen e dá uma informação estranha de que ele ficara dois anos no Brasil. Segundo a pesquisadora Betty Antunes de Oliveira, em cujo livro Centelha em Restolho Seco (Vida Nova) se fundamenta este ligeiro registro-homenagem ao pioneiro missionário batista no Brasil Thomas Jefferson Bowen, este aqui chegou em 21/05/1860 e retornou à sua terra natal em 09/02/1961, portanto, o tempo de permanência aqui foi de apenas “8 meses e 19 dias”. A questão real é que o Pr. Bowen pregava em yorubá aos negros escravos e ex-escravos, já o Pr. Ratcliff pregava para norte-americanos que residiam no Brasil e em inglês, p0rém o Pr. Bagby foi o primeiro a pregar em português para todos os Brasileiros.
O Pastor Thomas Bowen faleceu nos EUA em 24/11/1875, pouco depois de completar 62 anos de idade. O inusitado título do livro de Betty Antunes, acima citado, foi inspirado numa frase do próprio Bowen: “Meus fracos esforços entre os milhões da África parecem como gota d’água na areia do deserto. Possa o Senhor convertê-los como uma centelha em restolho seco”.
Neste dia especial quando lembramos o sesquicentenário da chegada de Thomas Jefferson Bowen e sua família ao Brasil, louvamos a Deus por sua vida, visão, coragem, dedicação ao Seu Reino, num tempo distante e muito difícil para o anúncio do evangelho em nossa terra. E que prossigamos com esta missão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário